quinta-feira, 26 de maio de 2011

Economia

Do outro lado do muro o poeta se sentia dentro,

no centro:

De onde disseminava implacáveis partículas sólidas de vantagem.

Afinal - pensava ele junto aos pombos, aqueles seus amigos das manhãs

Sou poeta e pela força do meu verso, de tanto maldizer, bendito me tornei.

Engano!

À míngua de supor haver aplausos escondidos atrás das cortinas que nunca se abrem

Ele comprazia-se em fazer dos dias meras linhas prostitutas que se davam a qualquer amor.

Mas vieram as noites frias como algozes dos tempos idos, cafetinas implacáveis

Agiotarem o trovador!

Que sem ter como dar conta pagou-lhes com pomposa nudez:

Despiu-se de sua poesia e entregou-se aos afetos da fome.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lucidez

A carne estremece pingando a expressão salgada de todo afeto
E a contorção dos ossos range aos ouvidos o não-quer , sim, querer!
O gosto de quase morte escapa ao fôlego, oscilante, inconseqüente.
Os jargões atropelam a eloqüência, vitoriosos, triunfantes.
D’onde se inspira o gosto repentino pela morte, o desejo da entrega inalterável.
E a busca por um nome tantas vezes falha, já que isto não é amor:
Não! O amor é racional.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Mister ou Peixe

A Osmar Soares

Se te amo, meu amigo, não é por querer

E não se assuste quando te digo – nem sempre ao pé do ouvido

Deste abrigo que me obriga a tanto amar.


É que meus olhos estão em dívida com as ondas

E meus pés correm sozinhos sobre as pedras da Lavradio

As mãos se contorcem em anotar rimas repetidas

E quando atento ao velho samba, ao novo samba, quiçá

Você está lá, aqui, em todo o lugar.


Não cabe recusa no meu peito

Que do teu lado é só Guanabara

E isto com ares de encargo, de suave fardo

É a tua ginga, é todo o mar navegado.