quarta-feira, 27 de abril de 2011

Verbete

E quando digo que é amor

não há como duvidar, meu bem:

Não sei mentir sobre o amor

Ou tomar seu santo nome em vão

Nem pelos que vão

(Por estes, menos ainda).


Podem crer todos os ouvintes

Todos os passantes, todos os pedintes.

E destes também clamo o perdão

Se com tanto insistir pareço um acusado

Bandido acuado, fazendo juras de inocência.


Por certo não sou inocente

De tanto dizer chinfrim, de tanta palavra vazia

Pois que o verbo só existe pela ação

Que dispensa toda sorte de poesia.


Por sorte, meu amor, tu já tens de cor este palavrório

Sem que sequer um pingo de letra

seja necessário ouvir.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mobília e Espetáculo

Pedaços de pau lixados e betumados

flutuam como ideias

num sem fim de memórias:

Os pobrezinhos nunca chegarão a ser cadeiras ou armários!


Nós, ainda mais pobres: miseráveis!

Circulamos tontos, trocando pernas e palavras

nus do que se pode tocar e agasalhados do que se diz.

--------------------------------Asfixia.


E encerrados sob o jogo de luzes

do grande palco em que tudo se tornou

quando questionados sobre cadeiras, armários, flores e versos

diremos com triste garbo:

De boatos é o nosso conhecer.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fel

A língua porfia entre dentes

Contendendo incauta com suas grades brancas

E com os ouvidos desatentos

- Mordam-me ferozmente os que me contornam,

Adormeçam-me os que me carregam

Esqueçam-me os que me devoram e de mim ganham prazer!

Mas – ouçam! - ingratos ordinários (e também ouçam os desavisados)

Rindo-me em tempo de morte, alerto-vos, caros:

- A vida mora na palavra.