sábado, 21 de janeiro de 2012

Autorregresso

Não quero que sejas meu

Porque de ninguém podes ser, meu bem

Para que não se percam o teu hálito e o teu fôlego

Em corpos vãos, que somem friamente

Como todos os teus amores

- - frívolos.


Então nunca voltarás para a nossa casa

- Minhas pernas trêmulas -

Porque nunca terás ido

Um passo além do nosso bem-querer.


Não cabe retorno onde nunca houve adeus.


Caminhas cambaleando pela linha tênue

Dos meus braços

Nunca apertados em volta de ti

E só por isso demora-te.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tolice

Abandono o fôlego e a calma na espera da tua língua

Tão tórrida quanto aqueles lugares da memória e do desejo

Em que te abrigo, desmedido benfazejo

dos meus olhos, boca, narinas

- de tudo que te experimente! –

E da morte, que me fazes desejar quando te apartas!


Ah, meu bem, se soubesses como o meu corpo se contorce

Reclamando aborrecido dos infortúnios do nosso amor,

desta sorte desgraçada de dias melhores que se esgotaram sem chegar.

ah, se ao menos desconfiasses, que minhas juntas se queixam,

meus ossos rangem e meus dedos, emudecidos, não dedilham mais canções.


E nas certezas desajustadas que jamais saberemos serem acertos

Perderam-se as velas, o choro e as rimas deste amor:

Restam as lamúrias do que é eterno e sem lugar.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Aquiles

Porque nossos pés são calçados de certezas

Tanto quanto exigem estes calcanhares

Para livrarem-se dos incansáveis clamores dos ossos,

da carne,

das juntas

e dos pêlos

trêmulos:

O corpo abriga dócil todos os apelos dos sentidos –

Enquanto nós,

Não tão dóceis,

Somos sentinelas da pouca lucidez desabrigada.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ode a Irajá

São seus os melhores versos sobre o amor

E aquelas outras mazelas de quem vai vivendo.

Aí você traga com cada cigarro o último suspiro do mundo

E em fumaça despeja a terrível insubmissão dos fatos.

- Que importa a um pulmão congestionado de esperança? -

Tua alma de bandido assalta os pavores do Rio de Janeiro

Pelo vil prazer de colecionar poesias e sustos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fracasso das Infinitas Léguas

ao amigo Afonso

Dos dias enfadonhos trago frações de riso

E uma grata espera por sorrisos inteiros.

Digo grata porque se executarão,

Digo inteiros porque serão presentes teus.


- O amor é lato.


No tempo oportuno o Sertão se pronuncia

E quanto a nós já sentenciou:

Sou pequeno como as léguas reduzidas à circunstância

E ainda menor que o abraço em Itapuã.

Esgotamento

As noites que encerram as horas claras

Idênticas àquelas encerradas pelas noites passadas

Agitam-se aflitas, fazendo-me refém de seus apelos.


Querem novidade: Nego!

Querem segredos: Desconheço!

Querem variação: Prossigo!


A cama é velha e amiga do tormento.


Muitos são meus inimigos:

- Sim, meus, sou dono de todos eles.

E com o apego de um colecionador

Depois de empilhar um a um

Idolatro a poeira que me asfixia:

- Não ouso tirar.