quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Jamais ou Já

Entende-se por um aquilo que não é o outro

E começa a procissão dos fiéis do Não!

Não somos aquele, nunca seremos aquilo!

Esta desgraça alheia, este monturo!


E o pobre monstro é negado

Repudiado,

tripudiado,

Como fosse sua cabeça um palco de sapateios ensaiados.


Mas na viração do dia, em secreto confessam os que gritam “somos!”:

Que sorte agourenta esta nossa!

Que na recusa lapidamos o ego

E que só pelos assombros do contrário podemos Ser.

Um comentário:

  1. Pior que as cartas de tolerância modernas (do tipo Locke, Voltaire e companhia), talvez seja o discurso blasè contemporâneo de afirmação de si às custas da negação do outro. É a inversão (e porque não dizer destruição) do princípio primeiro de qualquer sistemá ético, a qual seja, a afirmação incontornável da presença do outro. Não há ética sem o outro. Um procedimento ético que se constitui a partir da própria negação do outro é uma contradição performática de termos. Isto só pode levar à barbárie instituida que assistimos todos os dias em depoimentos deprimentes de um multiculturalismo risível que faz vigorar aquilo que supostamente nega a partir do que afirma.
    Que tempos e que costumes são os nossos, já diria Cícero!
    Ótimas refçexões trazidas em belos versos querida.
    Um beijo

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