Entende-se por um aquilo que não é o outro
E começa a procissão dos fiéis do Não!
Não somos aquele, nunca seremos aquilo!
Esta desgraça alheia, este monturo!
E o pobre monstro é negado
Repudiado,
tripudiado,
Como fosse sua cabeça um palco de sapateios ensaiados.
Mas na viração do dia, em secreto confessam os que gritam “somos!”:
Que sorte agourenta esta nossa!
Que na recusa lapidamos o ego
E que só pelos assombros do contrário podemos Ser.
Pior que as cartas de tolerância modernas (do tipo Locke, Voltaire e companhia), talvez seja o discurso blasè contemporâneo de afirmação de si às custas da negação do outro. É a inversão (e porque não dizer destruição) do princípio primeiro de qualquer sistemá ético, a qual seja, a afirmação incontornável da presença do outro. Não há ética sem o outro. Um procedimento ético que se constitui a partir da própria negação do outro é uma contradição performática de termos. Isto só pode levar à barbárie instituida que assistimos todos os dias em depoimentos deprimentes de um multiculturalismo risível que faz vigorar aquilo que supostamente nega a partir do que afirma.
ResponderExcluirQue tempos e que costumes são os nossos, já diria Cícero!
Ótimas refçexões trazidas em belos versos querida.
Um beijo